quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

TEXAS

A cena punk texana dos Anos 1960 tem excitado colecionadores de raridades psicodélicas ao longo das décadas (com toda a razão) e, ao lado de Los Angeles, essa região produziu o mais amplo número de grupos de alto padrão. Os sons adolescentes que emergiam das garagens texanas eram os mais alucinados e alienígenas que qualquer um pudesse imaginar. A mídia estadunidense focava a sua atenção na Revolução Psicodélica que ocorria em San Francisco, mas, para muitos, a mais demente psicodelia do mundo nascia em terras texanas. A explicação para isso poderia ser devido ao peiote ou aos cogumelos consumidos em larga escala por certa parcela da juventude texana, mas, sem se importar com as razões, o punk sessentista texano era, realmente, muito louco e gerou um punhado de gravações matadoras.

A mais infame de todas as bandas punks do Texas foi, sem dúvida, The Thirteenth Floor Elevartors. Liderados pelo talentoso Roky Erickson, os Elevators tinham um som inspirado em sua maior parte na sonoridade dos Rolling Stones, mas conseguiam soar muito mais selvagens que seus ídolos britânicos, muito disso devido ao jug elétrico de Tommy Hall. Lá pelo final de 1966, quando os Elevators começaram a ressoar os seus sons psicodélicos, a maioria dos grupos estava fazendo a transição do punk de garagem para a psicodelia. Como a melhor de todas, a banda conservou a sua rusticidade punk adolescente sem deixar de experimentar a lisergia sonora que estava impregnando os ares nessa época. Toda a discografia dos Elevators é importantíssima. Há também uma gravação ao vivo feita no Avalon Ballroom, em San Francisco, que é muito fácil de ser baixada na internet e que captura a feroz insanidade da banda em suas apresentações ao vivo. Os Elevators eram o orgulho do underground de Austin e Houston.

The Moving Sidewalks são outro grupo altamente apreciável por colecionadores, ainda que a maior parte de sua música possa ser considerada psicodelia progressiva ao invés de punk de garagem. Apesar disso, o primeiro single da banda, “99th Floor”, é uma obra-prima garageira além da imaginação. Essa canção possui uma letra bizarra, um forte riff com fuzz, uma batida austera e uma melodia cativante. Infelizmente, a banda não continuou trilhando esse caminho musical. O guitarrista Billy Gibbons mais tarde formou o ZZ Top e Jimi Hendrix deu o seu endosso à banda, duas razões pelas quais as pessoas continuam a considerar os Moving Sidewalks. Eles foram magníficos durante um single e apenas bons durante o resto de seu legado musical.

Uma banda muito mais versátil foi Mouse & The Traps, que gravou numerosos compactos. Eles são mais lembrados pela inconfundível habilidade do vocalista Ronnie “Mouse” Weiss em imitar Bob Dylan no maravilhoso clássico “A Public Execution”. Mas eles também rockavam pesado. A compilação dessa banda lançada pelo selo Eva é uma das melhores reedições já lançadas e mostram a versatilidade do grupo.

Os Elevators, os Moving Sidewalks e Mouse & The Traps são consideradas as três bandas principais pelos colecionadores de vinil, mas havia outras ótimas bandas texanas que chegaram até a alcançar as paradas de sucesso. Sam The Sham And The Pharaohs, por exemplo, é uma banda que conseguiu emplacar alguns sucessos em nível nacional. Contudo, debaixo das insanas letras de “Wooly Bully”, “Ju Ju Hand”, “Ring Dang Doo” e “Little Red Riding Hood” havia um excitante rock. A música de Sam era repleta de referências da década de 1950 – especialmente pelo uso de saxofone e de emulações de R&B – mas aquela batida pulsante, aquele órgão Vox, e aqueles vocais tensos eram puro punk adolescente. Sam The Sham tinha um excelente senso de humor que funcionava bem no vinil e nas apresentações ao vivo.

Outra grande banda saída do Texas foi The Sir Douglas Quintet. O produtor Harvey Meaux quis fazer parte da Invasão Britânica. Por isso, ele coagiu Dough Sahm a liderar The Sir Douglas Quintet. Bem, Meaux perpetrou alguns poucos sucessos comerciais, mas, com a voz arrastada de Dough Sahm e a influência dos músicos mexicanos que integravam a banda, ele passou longe de parecer britânico. Mas era uma banda diferenciada, e com “She’s About A Mover” e “The Rains Came”, o grupo alcançou certa notoriedade. Muito pouco do material da banda pode ser classificado como punk, pois eles eram igualmente adeptos do R&B e do country. Mas, quando eles tocavam rock, eles realmente detonavam. The Sir Douglas Quintet teve muita sorte em contar com o talento do tecladista Augie Myer. O jeito com que ele tocava o seu órgão Vox é copiado até os dias de hoje. Um verdadeiro gênio da simplicidade.

Um dos grupos que Myer inspirou foi The Five Americans. Apesar do nome meia-boca, essa banda de Dallas era punk até a medula. Eles tinham a inclinação para fazer melodias contagiantes. Portanto, uma porção dos seus mais de vinte singles beliscou as paradas. Basta lembrar de jóias como “I See The Light”, “Western Union” e “Zip Code”. Os Five Americans provaram que uma banda poderia ser pop sem deixar sua alma garageira de lado. Mas, voltando a falar das bandas que não alcançaram o sucesso, Kenny & The Kasuals era uma atração bastante popular no circuito de clubes, e o seu álbum ao vivo “falsificado” pode comprovar o motivo. Eles perpetraram excelentes versões de canções do rock britânico. Seus singles mostram a sua lenta guinada em direção ao punk psicodélico, especialmente a incrível “Journey To Tyme”.

Havia outras centenas de grupos texanos que merecem o seu lugar de destaque em qualquer antologia. É possível escrever um livro inteiro sobre o punk texano sessentista, mas podemos citar uma fileira de singles clássicos imprescindíveis. Eis aqui apenas alguns deles: “I Don’t Believe It”, dos Things (grupo de El Paso, com uma incendiária guitarra com fuzz e brilhante órgão Farfisa), “Blue Girl”, dos Bad Roads (rock acelerado), “The Train Kept A Rollin’”, do Scott McKay Quintet (grupo com uma sonoridade semelhante à dos Yardbirds da fase Jimmy Page), “Bad Girl” e “I Need You”, dos Zakary Thaks (duas pauladas punks, embora a maior parte do repertório da banda seja essencialmente melódica), “Sorrow In C Major”, do Knights Bridge Quintet (bizarra e hipnótica melodia conduzida pela guitarra com fuzz e um solo no estilo raga), “Come With Me”, dos Exotics (brilhante banda punk), “I’m In Pittsburgh” e “It’s Raining”, dos Outcasts (banda que apresentava um som meio inspirado nos Stones, tendo uma selvagem harmônica de fundo) e “Time Machine” de Satori (perfeita mistura entre Elevators e Seeds). E essa é apenas uma pequena fração de toda a boa música produzida no Texas durante os Anos 1960.

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