quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

NOVA IORQUE

O natural seria dizer que Nova Iorque teve uma cena punk tão excitante quanto as de Los Angeles e do Texas, mas a verdade é que isso estava longe de ser um fato. Havia poucos grupos sólidos, mas a cidade era uma miscelânea de vários gêneros. Havia provavelmente mais blues autêntico de Chicago (Paul Butterfield), psicodelia de primeira linha (Lottar & Hand People) e folk rock (Lovin’ Spoonful e Youngbloods) do que propriamente punk adolescente. Entretanto, há alguns grupos que merecem ser mencionados.

Os reis do punk na cidade de Nova Iorque eram os Blues Magoos. Reparando na sua ambientação visual inspirada em gibis, no fato dos membros da banda compartilharem o sobrenome Magoo e a falta de apoio da crítica local, é inevitável não se lembrar dos Ramones. Mas, ao contrário dos Ramones, os Blues Magoos conseguiram emplacar pelo menos dois excelentes sucessos nas paradas norteamericanas, “Pipedream” e “We Ain’t Got Nothing Yet”. Eles também lançaram três álbuns indispensáveis, Psychedelic Lollipop, Electric Comic Book e Basic, que são repletos de canções bem escritas, guitarras saturadas de fuzz, dedilhados de órgão Vox e letras fora de órbita. Musicalmente, os Blues Magoos soavam como uma rua de tráfego intenso na hora do rush, com a guitarra e o órgão criando um caos total. Os Blues Magoos eram bastante divertidos, e tinham crédito para usarem efeitos sonoros dentro do contexto punk, assim como também tinham talento e material para fazerem três álbuns clássicos. Os Blues Magoos eram, simplesmente, os maiores.

A banda The Magicians costumeiramente tocava no legendário clube Night Owl e era contratada da Columbia, ainda que o seu som polido não impressionasse muito os consumidores de discos de vinil. Os Vagrants eram contratados da Atco e o seu som soava como um Young Rascals mais cru (outra banda bastante popular da região), mas eles não conseguiram muita popularidade além dos limites dos clubes de Long Island. Dois grupos que mostravam grande potencial punk eram The Shapes Of Things com uma maravilhosa versão de “So Mystifying” e The Groupies, cuja “Primitive” configura-se em uma gravação que todo fã de rock de garagem deveria possuir. Na coletânea Nuggets, Lenny Kaye incluiu o Blues Project dentro do cenário punk. Era uma grande banda, liderada por Al Kooper, e seu álbum Projections é excelente e merece a atenção de qualquer colecionador.

Assim como o Blues Project, há outra banda formada por músicos “sérios” que, embora não fosse puramente uma banda punk adolescente, foi uma das bandas mais influentes para os grupos punks (especialmente os que surgiram a partir de 1976). Trata-se do Velvet Underground. A simplicidade de suas canções, o tom depressivo de suas letras e de sua postura, e a rusticidade de sua música foram tão importantes naquela época quanto hoje, tanto tempo depois. Fazendo um cruzamento sonoro entre bizarrice punk acelerada, pop e barulhos experimentais, eles sempre deixaram a sua personalidade impressa, voando à parte das novidades do movimento hippie. Lou Reed e John Cale começaram suas carreiras musicais tocando em diversas bandas de garagem (Primitives, Beechnut e Roughnecks, só para citar algumas) e, eventualmente, se uniram a pessoas como Mo Tucker para formarem o Velvet. Sua ligação com o Exploding Plastic Inevitable e sua conexão com o cenário artístico liderado por Andy Warhol eram os empurrões que eles precisavam para fazer o seu casamento com o seu destino. Sem dúvida alguma, pela qualidade de sua música e pela sua influência, The Velvet Underground foi a banda mais importante a emergir de Nova Iorque nesse período.

É claro que não apenas a cidade, mas também o estado de Nova Iorque tinha maravilhosos combos punks. As cidades pequenas do interior do estado estavam estufadas de excelentes bandas, como The Invictus (um LP roqueiro e vários singles), The Young Tyrants, The Heathens e The Huns. Os arredores de Nova Jérsei presentearam os fãs de rock de garagem com a banda Richard & The Young Lions, cuja “Open Up Your Door” é um clássico e os Knickerbockers lançaram a melhor canção no “estilo Beatles” já composta por uma banda norteamericana, a incrível “Lies”, que alcançou um razoável êxito comercial. Connecticut também tinha uma vibrante cena, liderada por The Shags, que lançaram vários e potentes singles. Há rumores de que existe um álbum inteiro gravado pelos Shags nos Anos 1960 e que ainda não foi lançado. Se for verdade, é imperativo que tal álbum venha à luz, pois canções como “Hide Away” são extremamente excitantes. Duas outras bandas de Nova Jérsei estreitamente conectadas com a cena de Nova Iorque eram The Myddle Class, que lançou gravações profissionais mas punks acima de tudo e The Balloon Farm, cuja “A Question Of Temperature” é um belo exemplo de perfeição em termos de psicodelia punk.

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