quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

GRAVADORAS INDEPENDENTES


Justamente como acontece hoje em dia, as grandes gravadoras eram cautelosas ao darem chances de gravação para muitos artistas iniciantes nos Anos 1960. Por isso, ficou a cargo das corajosas gravadoras independentes a tarefa de lançar as sementes fonográficas do punk de garagem sessentista. Pequenos empresários, procurando pelos seus próprios “Beatles”, assinaram contratos e gravaram com bandas que acabaram se revelando verdadeiras minas de ouro, ao passo em que alcançavam facilmente o sucesso regional. Um exemplo disso é que, nos últimos meses de 1966, na cidade de Cleveland, uma banda chamada The Choir ultrapassou os Beatles nas paradas de sucesso com o delicioso Merseybeat “It’s Cold Outside”. Ou seja, não foi um sucesso nacional, mas foi um grande sucesso localizado em uma determinada cidade. E foi assim em todo o país. Mesmo que a gravação não alcançasse o tão sonhado sucesso de nível nacional, a repercussão regional já era suficiente para garantir o lucro dos pequenos selos que, com isso, se multiplicavam. Alguns poucos selos independentes, como o Original Sound (com a Music Machine), o GNP Crescendo (com os Seeds), o Dunwich (com os Shadows of Knight) e o Cameo Parkway (com ? & The Mysteryans) foram razoavelmente sortudos em alcançar as paradas nacionais de sucesso.

As gravadoras independentes dos Anos 1960 enfrentavam os mesmos problemas que suas similares enfrentam hoje. Os pagamentos dos distribuidores regionais eram sempre atrasados e, na maioria dos casos, elas se sentiam com sorte de receber algum dinheiro. Uma pequena gravadora poderia ter uma gravação que faria um grande sucesso e não receber dinheiro algum por isso. Com um orçamento limitadíssimo, os problemas cresciam. Se uma banda já encontrava problemas em promover a sua canção candidata ao sucesso, imagine se não encontraria problemas em promover a carreira toda por essa eventual gravadora com pouco dinheiro em caixa. A conseqüência disso é que os Anos 1960 é repleto de bandas que emplacavam um grande sucesso e, tão rápido quanto surgiam, desapareciam de cena.

Mas, embora as gravadoras independentes tenham sido o pilar fundador do punk de garagem, as grandes gravadoras também contribuíram enormemente. Havia uma plenitude de refinados sucessos. Por exemplo, Paul Revere & The Raiders emplacaram uma fileira de clássicos como “Steppin’ Out”, “Just Like Me”, “Hungry” e “Kicks” antes da gravadora Columbia transforma-los em marionetes e fazer de Mark Lindsay um ídolo adolescente ao invés de um ídolo punk. A gravadora Mercury tinha os fantásticos Blues Magoos, cuja visão do punk psicodélico só está começando a ser reconhecida recentemente por historiadores e aficionados como uma das mais refinadas daquele período.

Ainda assim, as majors eram costumeiramente tapadas. Os Remains saíram em turnê com os Beatles, e, em várias ocasiões, as suas apresentações superavam em energia e magnetismo as próprias apresentações dos quatro rapazes de Liverpool. Mesmo com isso, a gravadora Capitol não lançou o álbum de Barry Trashian e seus parceiros a tempo de capitalizar em cima dessa publicidade. Outra escorregada da Capitol: Faturando alto com a trinca Beatles/Beach Boys/Peter & Gordon, os executivos dessa gravadora relegaram a banda The Lost (originária de Boston, como os Remains) ao segundo plano. A Capitol lançou apenas dois singles dessa banda e deixou-os de lado. Há rumores de que há um álbum do The Lost gravado nessa época e engavetado até hoje, apenas esperando por uma edição digital. Entusiastas do punk rock sessentista esperam ansiosos por esse lançamento.

Há uma infinidade de outras histórias. Nada mudou, à medida que as gravadoras independentes trabalham duro para construir um artista apenas para vê-los devorados pelo monstro corporativo, que os faz rastejar para terem algum espaço.

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